Dezenove de março, dia de São José, o carpinteiro marido de Maria, pai de Jesus Cristo. Este é um dia que tem muito a ver comigo, com minhas origens, com minhas lembranças. Não me chamo José Leonídio, por preferência de meus pais, existe uma história por trás de meu nascimento.
Meu pai nunca foi uma pessoa ligada às questões religiosas, pelo contrário, se considerava um ateu, em virtude de suas convicções políticas. Marceneiro formado nas bancadas de trabalho pelos melhores profissionais que aqui aportaram no início do século XX, era tido como um dos melhores profissionais da antiga Guanabara. Ele era sempre solicitado para grandes projetos que exigiam perfeição na sua confecção.
Numa determinada ocasião foi contratado para executar uma tarefa especial, todo mobiliário de um cliente, cuja madeira era importada. Não podia haver erros, porque não teria como refazer. Ao realizar os cortes no lenho, um equívoco deixou meu pai sem saber como agir.
Ao chegar em casa contou tudo à minha mãe, que estava grávida de mim. Minha mãe era uma “filha de Maria” e simplesmente aconselhou ao meu pai que se apegasse com São José, o Carpinteiro, e ele lhe daria a solução. Meu pai deu de olhos, mas não discutiu, só disse que se conseguisse achar a solução, e o neném que ela estava esperando fosse um menino, ao invés de se chamar Leonídio, daria o nome de José Leonídio.
Cansado, foi dormir. E sonhou com a confecção do projeto, o desacerto no corte, e naquele momento teve a noção exata do que acontecera, utilizara uma ferramenta inadequada para tirar do papel e trazer para a realidade a ideia proposta.
Na continuidade do sonho, foram surgindo os passos que tinha que dar para corrigir a falha, porém tinha que utilizar as FERRAMENTAS CERTAS naquele trabalho tão nobre. Quando acordou, quase não tomou café. Queria chegar o mais rápido possível na Leandro Martins, uma das mais conceituadas marcenarias de todo o país.
Passo a passo, os ensinamentos do sonho foram sendo colocados em prática, com o cuidado de empregar as ferramentas sugeridas e os caminhos propostos.
Ao fim de algumas semanas todo o mobiliário estava concluído, recebendo elogios dos que o encomendaram e da direção da Leandro Martins. Alguns dias depois, eu nasci e meu pai cumpriu com sua palavra, me dedicando a São José.
Daquele ano em diante, foi o único santo para quem rendia homenagens.
Todo esse relato da origem do meu próprio nome teve como elemento principal a frase que meu pai não cansava de repetir:
“Em tudo na vida temos que utilizar a FERRAMENTA CERTA, porque o erro surge em não usá-la.”
Estas palavras nos dias de hoje ressoam a cada momento. Em tudo na vida temos que utilizar as FERRAMENTAS CERTAS. Na medicina eu aprendi que não temos duas oportunidades, ou acertamos ou erramos. Podemos ser o melhor dos médicos, porém, um deslize num diagnóstico, pode custar a vida de quem atendemos.
Na atualidade, por mais que a maioria das equipes de saúde façam, estas não conseguem os melhores resultados, porque apesar de utilizarem as melhores ferramentas no atendimento, no momento exato do corte, desprezou-se a ferramenta certa, o que neste momento permitiria que os profissionais atendessem aos casos mais graves da Covid-19 com toda destreza que possuem.
Quanto mais se teima em não manuseá-las, mais difícil fica retornar à normalidade, porque uma obra perfeita não é confeccionada com remendos. Por mais que queiramos, não temos mais como voltar no tempo, as vidas perdidas não voltam.
Não temos mais tempo. Ou temos o despojamento de admitir que a omissão de alguns custa a vida de muitos e começamos a usar a FERRAMENTAS CERTAS - vacinação em massa, álcool gel, máscara, distanciamento e, se necessário isolamento social -, ou continuaremos a ver aumentar exponencialmente os acometidos pela pandemia e o número de óbitos.
Ainda dá tempo de salvar vidas, é só calçarem as sandálias da humildade e utilizarem as FERRAMENTAS CERTAS.
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